Romeo Zero


Alquimia do Esmalte

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Romeo Zero


Romeo Zero

(São Paulo 1932 – Brasília 2015)

Diplomata e artista plástico autodidata. Pintor e desenhista, iniciou sua trajetória artística com esmalte sobre cobre em 1972. Realizou exposições em diversos países.

“Somente um artesão meticuloso, que concebe com antecipação, pode explorar com sucesso a arte do esmalte sobre cobre. A individualidade de Romeo Zero é o resultado dessa luta entre o artista e o medium.”
—Bruno Palmer, Artspeak, New York

1974


Sobre Romeo Zero

“Sempre gostei, desde criança, de realizar alguma coisa com minhas mãos. No fundo sou um homo faber. Acredito que todas as pessoas poderiam realizar algo de criativo, se aplicassem as potencialidades de seu sense lúdico, inerente à propria essência humana, ao aprendizado, mesmo elementar, de uma técnica, de um ofício, no sentido que essa palavra tinha antigamente.” Quem nos fala é o artista Romeo Zero, diplomata de carreira, atualmente servindo na Divisão de Difusão Cultural do Itamaraty.

De um apurado senso de humor e não se considerando um homem muito organizado, já serviu na Argentina e na Nicarágua, tendo cumprido missões temporárias em Portugal, Paraguai e Estados Unidos.

“Comecei a interessar-me pela cerâmica e pelo esmalte há mais de vinte anos. Aprendi alguns rudimentos dessas artes com Margaret Spence e com Hilda Campofiorito. Infelizmente, o breve aprendizado teve que ser interrompido, por motivo de uma viagem e somente agora, como auto didata, voltei a trabalhar com esmaltes.

Na sua sala de muito bom gosto, entre quadros, entalhes, tapeçarias, gravuras e desenhos de Jack Mergherian, Libero Badii, Raimundo Oliveira, Marcelo Grassman, Isabel Pons, Piza, e muitos outros, continua Romeo contando sobre sua arte e sobre sua técnica.

“Em Buenos Aires, em 1971, às vésperas de regressar ao Brasil, visitei o atelier de um amigo pintor, e alí verifiquei que sua mulher possuía pequeno forno elétrico, com o qual praticava a esmaltagem. Alí mesmo resolvi que, ao chegar a Brasília, voltaria a reaprender, sozinho, a técnica. Comprei um pequeno forno, alguns esmaltes, um manual elementar e trouxe tudo para Brasília.”

Romeo, que tem seu atelier impovisado num dos quartos de seu apartamento, conta que no princípio foi tudo muito difícil, a falta de espaço, a dificuldade em encontrar aqui o cobre de espessura adequada, e uma série de pequenos contratempos quase o levaram a deixar de lado as incursões neste campo.

Depois de algumas frustradas experiências conseguiu realizar atisfatoriamente pequenos projetos: cinzeiros, medalhas, broches. Se por um lado alegrava-se em constatar que aos poucos dominava a técnica do esmalte, por outro lado, sentia-se desapontado por não poder fazer peças maiores e mais ambiciosas em virtude da diminuta capacidade do forno e das limitações do rudimentar equipamento de que dispõe.

Quem viu os seus trabalhos na exposição coletiva da Galeria Multipla notou que Romeo estava elaborando peças maiores apesar das suas dificuldades. Indagamos de como tinha conseguido realizá-los.

“Procurei também adaptar as minhas condições de trabalho à uma evolução. Ocorreu-me fazer pequenos quadros em esmalte mediante o expediente de fragmentá-lo previamente, de modo que cada zona de côr fosse esmaltada e queimada separadamente e, posteriormente, reunidas e montada à maneira de um mosaico ou de um puzzle, recompondo assim a imagem inicial.

Há diversas técnicas de esmalte sob metais, com vários graus de sofisticação. Os métodos mais requintados e de maiores possibilidades criativas, como o cloisonné, o champlevé e o email à jour, já eram conhecidos desde a antiguidade e foram utilizados de forma bastante ampla na Idade Média e no Renascimento que nos legaram peças de extrema beleza.

Todas essas técnicas, prosseguiu Romeo Zero, para serem executadas com razoável destreza, exigem tempo e sobretudo, um complexo equpamento e um atelier bem montado.

Em razão das limitações já citadas, utiliza-se de uma técnica mais elementar, que consiste na pulverização do esmalte seco sobre a superfície de cobre.

A chapa, inicialmente, deve ser recortada na forma desejada, aplainada e limada cuidadosamente. Em seguida, recebe um banho de ácido nítrico e uma lavagem com detergente, a fim de livrá-la de sujeiras e gorduras, que impedem a fixação do esmalte no cobre. Só então a chapa pode ser coberta com uma camada de esmalte em pó e levada ao forno, a temperaturas que variam de 700 a 900 graus, de acordo com o ponto de fusão de cada cor.

Seus trabalhos, de um colorido ao mesmo tempo intenso e delicado, transmitem todo o entusiasmo do artista e sua alegria na concepção.

Romeo Zero acaba de ser selecionado para participar do I Salão Global da Primavera, a ser inaugurado brevemente no Palácio do Butiti.

Excelente artista e excelente papo, Romeo Zero é casado com Leilah — sua grande incentivadora — e tem cinco filhos: Eduardo, Heloisa, Bruno, Marcelo e Paulo.

Entre um e outro programa de televisão que seus filhos assistem na sua “oficina de trabalho”, instalada num dos quartos do seu apartamento, Romeo prepara suas próximas exposições individuais, que serão realizadas no Rio de Janeiro e São Paulo.

Esmalte


Esmalte sobre cobre

Assim como o objetivo dos antigos alquimistas era transformar metais em ouro pelo calor do fogo, o artista do esmalte transforma o pó de vidro em superfícies coloridas e brilhantes através da fusão do vidro com o metal, usando temperaturas altas, convertendo o mundano ao mágico.

Esmaltes vítreos são vidro finamente moído como areia fina. Podem ser opacos ou transparentes e suas cores vem de vários compostos químicos. O procedimento básico, porém trabalhoso, para o esmalte é aplicar o pó no metal limpo, freqüentemente cobre, com uma peneira bem fina, e esquentar a peça em forno a uma temperatura de aproximadamente 815 graus Celsius, até que o esmalte se funda com o cobre. Esmalte pode ser fundido ao ouro, prata ou aço.

Esmaltes são caracterizados por cores brilhantes e excelente durabilidade. Ao contrário de tintas, o esmalte não desbota com o tempo — objetos esmaltados datando dos tempos Romanos ainda conservam cores gloriosas. O medium do esmalte existe há milhares de anos e faz parte do património artístico de vários paises.

Os primeiros objetos esmaltados foram feitos em Chipre em torno do século 13 AC. O esmalte desempenhou um papel importante na arte bizantina, arte francesa e alemã da Idade Média e do Renascimento, e arte japonesa e chinesa do século 13 até o presente. Peças esmaltadas evoluiram da produção de contas pequenas costuradas em roupas ou colocadas em esculturas aos magníficos e elaborados retábulos e relicários da Europa medieval, aos finos retratos de esmalte de Limoges na França do século 16, e aos vasos, caixas e bandejas chinesas de cloisonné fantasticamente ornamentadas que ainda estão sendo produzidas hoje. À medida que o medium é caro e difícil de controlar, poucos artistas contemporâneos trabalham com esmaltes.